| ... Pois é, amigo, como se dizia antigamente, o buraco é mais embaixo...
E você com todo o seu baú, vai ficar por lá na mais total solidão,
Pensando à beça que não levou nada do que juntou: só seu terno de cerimônia.
Que fossa, hein, meu chapa, que fossa...
Você que não pára pra pensar
Que o tempo é curto e não pára de passar
Você vai ver um dia, que remorso!
Como é bom parar
Ver um sol se pôr
Ou ver um sol raiar
E desligar, e desligar
Mas você, que esperança...
Bolsa, títulos, capital de giro, public relations (e tome gravata!)...
Protocolos, comendas, caviar, champanhe (e tome gravata!)...
O amor sem paixão, o corpo sem alma, o pensamento sem espírito (e tome gravata!)...
E lá um belo dia, o enfarte; ou, pior ainda, o psiquiatra
Você que só faz usufruir
E tem mulher pra usar ou pra exibir
Você vai ver um dia
Em que toca você foi bulir!
A mulher foi feita
Pro amor e pro perdão
Cai nessa não, cai nessa não
Você, por exemplo, está aí com a boneca do seu lado, linda e chiquérrima...
Crente que é o amo e senhor do material
É, amigo, mas ela anda longe, perdida num mundo lírico e confuso
Cheio de canções, aventura e magia.
E você nem sequer toca a sua alma.
É, as mulheres são muito estranhas, muito estranhas ... |
(Vinícius de Moraes)
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